Arthur Conan Doyle: Vida, Obra e Espiritismo Arthur Conan Doyle: Vida, Obra e Espiritismo

Arthur Conan Doyle: Vida, Obra e Espiritismo

Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes, foi um fervoroso defensor do espiritualismo, dedicando sua vida à promoção dessa crença.

Neste artigo, exploraremos a vida de Arthur Ignatius Conan Doyle, médico e escritor escocês que ficou conhecido mundialmente como o criador do icônico detetive Sherlock Holmes.

Além de sua famosa contribuição para a literatura de mistério, Conan Doyle também teve uma profunda conexão com o espiritismo, que influenciou tanto sua vida pessoal quanto sua obra literária.

Acompanhe-nos enquanto mergulhamos nos detalhes de sua biografia, suas realizações literárias e sua jornada espiritual, oferecendo uma visão abrangente sobre um dos escritores mais intrigantes da história.

Introdução à Vida de Arthur Conan Doyle

Arthur Conan Doyle
Arthur Conan Doyle – https://www.arthur-conan-doyle.com/index.php/Sir_Arthur_Conan_Doyle

Arthur Conan Doyle nasceu em 22 de maio de 1859, em Edimburgo, Escócia, em uma família de forte herança artística e literária.

Filho de Charles Altamont Doyle, um artista renomado, e Mary Foley, Arthur cresceu em um ambiente que valorizava a criatividade e a expressão artística.

Apesar das dificuldades financeiras e pessoais enfrentadas pela sua família, ele teve uma educação robusta, frequentando a Stonyhurst College e posteriormente a Universidade de Edimburgo, onde se formou em medicina.

Quando entrou para a Universidade de Edimburgo, ele já se considerava um agnóstico, e foi durante esse período que suas crenças se alinharam mais estreitamente com as de sua futura criação, contando com a observação e dedução.

Sua carreira como médico começou de forma modesta, mas logo a literatura chamou sua atenção.

Enquanto exercia a medicina, Conan Doyle começou a escrever histórias, que inicialmente eram publicadas em revistas e jornais. Sua paixão pela escrita rapidamente se transformou na criação de um dos personagens mais icônicos da literatura: Sherlock Holmes.

No entanto, a vida de Conan Doyle foi marcada não apenas por suas contribuições literárias, mas também por suas crenças pessoais e a eventual conversão ao espiritismo, que desempenharam um papel significativo em sua vida e obra.

Os Primeiros Anos e Educação de Conan Doyle

Arthur Conan Doyle teve uma infância marcada por desafios e descobertas. Nascido em uma família talentosa, mas atormentada por problemas de alcoolismo de seu pai, a estabilidade emocional e financeira eram frequentemente precárias.

Ainda assim, sua mãe, uma ávida contadora de histórias, foi uma influência significativa, incutindo-lhe um amor profundo pela literatura e histórias de aventura desde cedo.

“Sua mãe foi uma mulher verdadeiramente excepcional, quer pela pureza do caráter, como pela franqueza das atitudes e também pelo respeito que devotava ao ser humano. Conan Doyle foi ‘o ídolo do seu coração’. Ambos se amavam enternecidamente e se compreendiam melhor, talvez em virtude da afinidade moral entre eles existente.”

Reformador – nov. de 1978: Arthur Conan Doyle

Conan Doyle começou sua educação em uma escola jesuíta, Stonyhurst College, onde não apenas aprofundou seu conhecimento em clássicos e literatura, mas também desenvolveu um interesse por ciências e medicina. Essa fase de sua vida foi crucial, pois o ambiente rigoroso e disciplinado da escola moldou muitas de suas convicções e o preparou para os desafios futuros.

Após completar sua educação em Stonyhurst, Doyle avançou para a Universidade de Edimburgo. Lá, ele não apenas obteve seu diploma em medicina, mas também teve a oportunidade de trabalhar com figuras notáveis como o Dr. Joseph Bell, cujas habilidades de dedução e atenção aos detalhes serviriam de inspiração para o personagem Sherlock Holmes.

Durante seu tempo na universidade, Conan Doyle começou a escrever pequenas histórias, algumas das quais foram publicadas em revistas locais, marcando o início de sua carreira literária paralela à medicina.

Esses anos formativos foram essenciais para o desenvolvimento de Conan Doyle, não apenas como médico, mas também como escritor. As experiências vividas durante este período proporcionaram uma rica fonte de material para suas futuras obras literárias e solidificaram sua abordagem humanística tanto na medicina quanto na escrita.

Sherlock Holmes: A Criação do Detetive Mais Famoso do Mundo

illustration by Sidney Paget for The Adventure of the Greek Interpreter)

Arthur Conan Doyle criou Sherlock Holmes, um personagem que viria a se tornar o detetive fictício mais famoso do mundo, no final do século XIX. A primeira aparição de Holmes foi na obra “Um Estudo em Vermelho”, publicada em 1887.

Holmes era um detetive de uma astúcia sem igual, conhecido por seu rigoroso método de dedução lógica, disfarces engenhosos e sua habilidade de resolver os casos mais intrigantes.

A inspiração para Sherlock Holmes veio de várias fontes. Notavelmente, Dr. Joseph Bell, o mentor de Conan Doyle durante seus anos na Universidade de Edimburgo, foi uma influência significativa.

Dr. Joseph Bell era famoso por sua capacidade de deduzir muito sobre seus pacientes com apenas um rápido olhar. Essa habilidade foi habilmente transposta para as características de Holmes, criando um personagem que usava sua percepção e inteligência para resolver mistérios complexos.

As aventuras de Sherlock Holmes capturaram a imaginação do público passando a ocupar muito do seu tempo, tanto que Conan Doyle escreve para sua mãe em 1891, alegando um certo desconforto com aquele sucesso: “Acho que vou assassinar Holmes… e lhe dar fim de uma vez por todas. Ele priva minha mente de coisas melhores.” Em resposta, sua mãe ponderou: “Faça o que achar melhor, mas o público não aceitará essa atitude em silêncio.”

De fato Conan Doyle tentou encerrar a série e matar o personagem, a demanda popular e a resposta emocional dos leitores o obrigaram a trazer Holmes de volta à vida em The Return of Sherlock Holmes [O Retorno de Sherlock Holmes] de 1903.

A Conversão ao Espiritismo: Motivações e Influências de Arthur Conan Doyle

A conversão de Arthur Conan Doyle ao espiritismo foi um marco significativo em sua vida pessoal e profissional, influenciando profundamente sua escrita e suas crenças.

Sua jornada no espiritismo começou por volta de 1887, quando ele se envolveu com a Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres. Esta organização se dedicava ao estudo científico de fenômenos paranormais, como mediunidade, telepatia e aparições.

A princípio, Arthur Conan Doyle era um cético curioso, mas suas experiências e investigações o levaram a uma mudança de perspectiva, convencendo-o da veracidade de muitos fenômenos espirituais.

Após décadas de sucesso como escritor, Doyle encontrou no espiritismo respostas para suas incessantes questões sobre a vida após a morte e o significado mais profundo da existência humana.

A tragédia pessoal desempenhou um papel significativo na intensificação do envolvimento de Doyle com o espiritismo. A morte de vários entes queridos, incluindo seu filho Arthur Alleyne Kingsley, durante a Primeira Guerra Mundial, intensificou sua busca por respostas além do mundo físico.

Essas perdas pessoais profundas o levaram a buscar conforto e compreensão sobre a vida após a morte. De fato, tanto ele quanto outros cientistas foram impulsionados para a doutrina por suas perdas pessoais e pelo período obscuro causado pela Primeira Guerra Mundial.

Arthur Conan Doyle foi profundamente influenciado por várias figuras proeminentes do movimento espiritualista da época. Ele participou de sessões de mesa girante, leituras de médiuns e outras práticas espiritualistas, que gradualmente o convenceram da veracidade das comunicações espirituais.

Sua crença foi solidificada ainda mais após experiências pessoais que ele considerou incontestáveis, incluindo mensagens aparentemente precisas de entes queridos falecidos e demonstrações de fenômenos paranormais.

Ao abraçar o espiritismo, Conan Doyle tornou-se um defensor ardente do espiritismo, escrevendo extensivamente sobre o tema em livros como “A Nova Revelação” (1918) e “A História do Espiritismo” (1926), onde argumentava a favor da existência da vida após a morte e da possibilidade de comunicação com espíritos e participando de conferências e eventos públicos para divulgar suas crenças.

Ele viu no espiritismo não apenas uma consolação pessoal, mas também uma esperança para a humanidade, promovendo uma visão de um mundo onde o véu entre o material e o espiritual era permeável e onde a vida após a morte oferecia uma continuidade da jornada humana.

Essa conversão impactou a obra de Doyle de várias maneiras. Ele começou a infundir suas histórias com temas espiritualistas e a usar sua escrita como um meio para explorar e discutir questões relacionadas ao espiritismo e à imortalidade da alma.

A partir de então, Arthur Conan Doyle dedicou grande parte de seu tempo à promoção do espiritismo, sendo frequentemente convidado para palestras e eventos relacionados.

Ele viajou por toda a Europa, Estados Unidos, Canadá, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e muitos outros lugares ao redor do mundo, financiando suas viagens e diversas iniciativas para divulgar a nova doutrina.

Doyle foi escolhido como Presidente de Honra da Federação Espírita Internacional, Presidente da Aliança Espiritualista de Londres e também Presidente do Colégio Britânico de Ciência Psíquica.

Despertar Religioso

Arthur Conan Doyle, inicialmente um crítico da religião, gradualmente se tornou um fervoroso defensor do espiritualismo. Em 1906, durante uma visita de seu irmão, capitão Innes Doyle, este expressou surpresa pelo sucesso de Arthur na literatura em vez da medicina.

Em uma resposta que parecia surgir de uma força externa, Arthur afirmou que seu grande feito na vida não seria em nenhuma dessas áreas, mas na religião. Surpreso com suas próprias palavras, ele riu junto com seu irmão, como se fosse uma piada. No entanto, essa premonição se tornou realidade quando Doyle se destacou como um líder de uma nova geração de espiritualistas.

O espiritualismo, segundo Doyle, resgatava a verdadeira essência da religiosidade — uma religião natural que dignificava a compreensão de Deus. Ele sintetizou sua crença em sete princípios fundamentais:

1. A Paternidade de Deus;
2. A Fraternidade entre os Homens;
3. A comunhão dos santos e o ministério dos anjos;
4. A sobrevivência humana à morte física;
5. A Responsabilidade pessoal;
6. A compensação ou retribuição pela prática do bem ou do mal;
7. O progresso eterno acessível a todos.

A História do Espiritualismo, cap. XXIV – Arthur Conan Doyle

Doyle encontrou paz em uma visão espiritual que rejeitava a ideia de um inferno eterno e um céu fantasioso:

“A revelação anula a ideia de um inferno grotesco e de um céu fantástico, concebendo uma elevação progressiva na escala da vida, sem mudanças monstruosas que nos transformem em anjos ou demônios num instante.”

A Mensagem Vital – Arthur Conan Doyle

Convicto de que o espiritualismo de sua época era uma manifestação divina, Doyle acreditava que aqueles que ajudavam a promover essa obra eram abençoados. Ele advertia que aqueles que se opunham ou interferiam no caminho desse conhecimento revelador enfrentariam grandes consequências. Para ele, o espiritualismo era um presente do infinito amor divino destinado a elevar e inspirar a humanidade na Terra. – Reformador, maio de 1979: “O Espiritismo segundo Arthur Conan Doyle”

Desfecho e Legado de Conan Doyle

Pela sua contribuição direta e objetiva ao espiritualismo, podemos dizer que indiretamente Conan Doyle foi um propagandista também do Espiritismo. Mas, a rigor, ele era um espiritualista e não exatamente um espírita.

A exemplo da massa de espiritualistas americanos e anglo-saxões, Arthur Conan Doyle teve dificuldades em compreender o Espiritismo codificado por Allan Kardec, principalmente por conta da Lei de Reencarnação — um dos conceitos fundamentais da Doutrina Espírita e ponto de discórdia entre o Espiritualismo Moderno e o Espiritismo.

As viagens e eventos em favor da divulgação do movimento espiritualista ajudaram a desgastar o organismo físico do médico-escritor, que não poupou esforços para tal obra.

Pouco depois de retornar de mais uma jornada propagandista, ele sofreu um ataque cardíaco em sua casa em Crowborough, East Sussex, no dia 7 de julho de 1930, vindo a falecer aos 71 anos, dos quais mais da metade foi intensamente dedicada à causa espiritualista. Suas últimas palavras foram ditas à sua esposa: “Você é maravilhosa”.

Ainda que indiretamente, Arthur Conan Doyle figura entre os grandes seareiros da divulgação do Espiritismo.

Como espiritualista nos moldes da fenomenologia moderna da mediunidade e das revelações espirituais do movimento que originou a Codificação Espírita, ele ajudou, com seu prestígio e ação efetiva, a promover conceitos fundamentais da natureza do pós-morte (Deus, imortalidade da alma, comunicabilidade dos Espíritos, fraternidade universal, justiça divina, etc.), disseminando as mesmas sementes que unem o Espiritualismo e o Espiritismo.

O grande filósofo espírita brasileiro do século XX, José Herculano Pires, assim sintetizou o perfil biográfico do nobre Cavaleiro Espiritualista:

“O romancista e o novelista aqui estão, na múltipla tessitura das narrativas que se sucedem, capítulo por capítulo. O autor policial, na perspicácia de apreensão dos fatos. O espírita se manifesta no interesse pelos fatos e pela sua interpretação, na compreensão da grandeza e da importância do movimento espiritista mundial. O médico Arthur Conan Doyle, o homem voltado para os problemas científicos, o pensador, debruçado sobre as questões filosóficas, e o religioso, que percebe o verdadeiro sentido da palavra religião — todos eles estão presentes nesta obra gigantesca, suficiente para imortalizar um escritor que já não se houvesse imortalizado.”

J. Herculano Pires, no Prefácio para uma tradução de A História do Espiritualismo

A firmeza e elegância com que historiou e defendeu sua crença espiritualista realmente marcaram sua vida, embora a fama do personagem Sherlock Holmes, por ele criado, abra uma justa disputa nesse sentido.

Todavia, como ele próprio dizia — e, sem titubear, repetiu na sua única entrevista gravada em áudio e vídeo, em outubro de 1928 —, o importante para ele eram mesmo os assuntos psíquicos: “o mais elevado propósito ao qual eu poderia dedicar o resto da minha vida”.

Entrevista de Sir Arthur Conan Doyle, feita no verão de 1927. Trata-se do único registro audiovisual conhecido do autor.

Referências

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