Comunicação com o Mundo Espiritual
A morte é apenas uma passagem, uma transição que não interrompe a conexão que temos com aqueles que amamos, mas transforma a maneira pela qual essa comunicação ocorre.
A doutrina espírita, apoiada por ensinamentos bíblicos e pela decodificação realizada por Allan Kardec, oferece uma visão reconfortante e esclarecedora sobre como podemos manter comunicação com os espíritos, contato com entes queridos desencarnados.
934. A perda dos entes que nos são caros não é para nós legítima causa de dor, tanto mais legítima quanto é irreparável e independente da nossa vontade?
“Essa dor atinge assim o rico, como o pobre: representa uma prova, ou expiação, e comum é a lei. Porém, vocês têm uma consolação em poderem se comunicar com os vossos amigos pelos meios que vos estão ao alcance, enquanto não dispõem de outros mais diretos e mais acessíveis aos seus sentidos.”
questão 934 – o livro dos espíritos
Fundamentos e História da Comunicação Espiritual
Desde os tempos de Allan Kardec, a comunicação com os mortos tem sido uma prática cuidadosamente estudada e documentada.
Kardec, em obras como “O Livro dos Espíritos” e “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, discute a natureza desta comunicação, sublinhando a importância de abordá-la com seriedade e respeito.
As escrituras abordam esse tema, indicando que a conexão entre este mundo e o próximo pode ser mais sutil do que muitas vezes percebemos, uma ideia que pode ser explorada em diversas passagens bíblicas.
Seis dias depois, Jesus foi para um monte alto, levando consigo somente Pedro e os irmãos Tiago e João. Ali, eles viram a aparência de Jesus mudar: o seu rosto ficou brilhante como o sol, e as suas roupas ficaram brancas como a luz. E os três discípulos viram Moisés e Elias conversando com Jesus.
Mateus 17:1-3
Impacto Histórico e Cultural da Comunicação com os Espíritos
Ao longo dos séculos, a comunicação com os espíritos desencarnados tem desempenhado um papel significativo em diversas culturas, permeando as artes, a literatura e as crenças populares.
Essas práticas não apenas refletem as inquietações humanas sobre a morte e o além, mas também têm influenciado poderosamente a criatividade e o pensamento filosófico.
No século XIX, por exemplo, as sessões espíritas ganharam popularidade e se tornaram verdadeiros fenômenos culturais. Muitos artistas, escritores e figuras públicas da época frequentavam sessões em busca de inspiração ou conforto espiritual.
Essas experiências são evidentes nas obras de autores como Victor Hugo e Sir Arthur Conan Doyle, que exploraram temas espirituais e sobrenaturais em suas literaturas, refletindo suas próprias experiências e crenças espíritas.
Além disso, as práticas mediúnicas contribuíram para moldar a compreensão moderna da vida após a morte.
A ideia de que a consciência continua existindo independentemente do corpo físico introduziu uma nova perspectiva sobre a imortalidade da alma, influenciando não só as crenças religiosas, mas também debates filosóficos e científicos sobre a natureza da consciência humana.
Métodos e Práticas de Comunicação Espiritual
Na busca por compreender e interagir com o mundo espiritual, utilizamos várias técnicas mediúnicas, que requerem diferentes níveis de desenvolvimento e sensibilidade espiritual.
A mediunidade, em sua essência, refere-se à capacidade inata que algumas pessoas têm de perceber e comunicar-se com espíritos. Esta capacidade pode manifestar-se de diversas formas, dependendo do grau de sensibilidade e treinamento do indivíduo.
Dentro do espiritismo, a psicografia e a mediunidade de incorporação são duas técnicas para facilitar a comunicação entre o mundo físico e o espiritual.
Psicografia
A psicografia permite que médiuns treinados transcrevam mensagens de entidades espirituais.
Esta forma de mediunidade é altamente valorizada por sua capacidade de produzir mensagens claras e detalhadas, que são frequentemente utilizadas para oferecer conselhos espirituais e alívio emocional aos que buscam respostas para suas inquietações ou conforto para suas dores.
Incorporação
Por outro lado, a mediunidade de incorporação envolve o médium cedendo seu controle corporal temporariamente a um espírito, permitindo que ele se comunique diretamente com os encarnados.
Este método é particularmente útil em centros espíritas para facilitar a cura, oferecer conselhos diretos ou esclarecer dúvidas espirituais de maneira mais imediata e palpável.
Em ambos os casos, a segurança e a ética são prioritárias. É essencial que estas práticas sejam realizadas sob supervisão cuidadosa e apenas em ambientes devidamente preparados, para garantir que as interações sejam positivas e construtivas evitando qualquer prática que possa levar à obsessão ou ao desequilíbrio espiritual.
935. Que se deve pensar da opinião dos que consideram profanação as comunicações com o além-túmulo?
“Não pode haver profanação nisso, quando haja recolhimento e quando a evocação seja praticada com respeito e utilidade. A prova de que é assim está no fato de que os Espíritos que consagram afeição a vocês ajudam com prazer aos seus chamados. Sentem-se felizes por se lembrarem deles e por se comunicarem convosco. Haveria profanação, se isso fosse feito levianamente.”
questão 935 – o livro dos espíritos
Comparando Visões sobre a Comunicação com os Espíritos
A comunicação com os espíritos desencarnados é um tema que contempla muitas tradições espirituais e religiosas, cada uma com suas próprias interpretações e práticas.
Doutrina Espírita
No espiritismo, essa comunicação é vista como uma parte natural da vida espiritual, uma extensão do compromisso com o Consolador Prometido por Jesus, que nos assegura a continuidade da orientação espiritual e do apoio após sua partida física.
Com a condição de que essa comunicação seja feita dentro de um contexto de respeito e com o devido cuidado para evitar obsessões e influências negativas, ela se alinha à promessa de Jesus de enviar um Consolador que nos auxiliaria e guiaria em todas as verdades (João 14:16, 26).
16 – E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; 26 – Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.
joão 14:16,26
Assim, o espiritismo pratica essa comunicação consciente da presença contínua desse Consolador em nossas vidas, enfatizando a importância de manter uma relação equilibrada e positiva com o mundo espiritual.
Igreja Católica
No Catolicismo, a comunicação com os espíritos, como a intercessão dos santos não é apenas uma prática devocional; ela se baseia na crença de que os santos, que agora vivem na presença de Deus, podem interceder pelos vivos.
Essa doutrina é apoiada por diversos trechos bíblicos, como a recomendação de São Paulo em suas epístolas para que os cristãos orem uns pelos outros, o que é visto como uma extensão dessa prática aos que estão no céu.
Os católicos frequentemente se dirigem aos santos em oração, pedindo ajuda para questões específicas, saúde, ou orientação, especialmente em momentos de dificuldade ou decisão.
Diferentemente do espiritismo, onde a comunicação com os espíritos pode incluir a troca direta de mensagens, no Catolicismo, essa comunicação é unilateral, onde os fiéis falam através da oração e acreditam na intercessão divina sem expectativa de uma resposta direta.
Budismo Tibetano
No Budismo, especialmente no budismo tibetano (Vajrayana), encontram-se práticas que envolvem meditações e rituais que permitem aos praticantes entrar em contato com seres de outros planos de existência, o que pode incluir espíritos de ancestrais. Estas práticas são vistas como uma forma de receber orientação espiritual e de ajudar os espíritos que estão em transição.
Povos Indígenas
Entre os povos indígenas, como os Navajo, a comunicação com os espíritos é parte integrante da vida comunitária, com rituais e cerimônias destinadas a honrar os ancestrais e receber seu conselho e proteção.
Ao explorarmos essas diversas abordagens, percebemos a riqueza e a complexidade da comunicação com os espíritos como um fenômeno humano universal.
Sonhos como Canal de Comunicação com os Espíritos
Na doutrina espírita, os sonhos são considerados um meio significativo de comunicação com os espíritos.
Segundo Allan Kardec em “O Livro dos Espíritos”, durante o sono, ocorre um fenômeno conhecido como desdobramento espiritual, onde o espírito se afasta temporariamente do corpo físico.
Durante o sono, a alma não repousa, como o corpo, pois o Espírito jamais está inativo.
No sono afrouxam-se os laços que prendem o Espírito ao corpo e, não precisando, então, o corpo da sua presença, o Espírito se lança pelo espaço e entra em relação mais direta com outros espíritos encarnados e/ou desencarnados incluindo entes queridos que já desencarnaram.
Esses encontros nos sonhos não são meros produtos de nossa imaginação; eles são, muitas vezes, interações reais com o mundo espiritual que podem fornecer consolo e orientação sobre nossa vida.
As experiências podem variar desde conversas com espíritos guias até reencontros com familiares falecidos que vêm oferecer suporte e aconselhamento.
Por meio desses sonhos, os espíritos podem também transmitir premonições ou alertas sobre eventos futuros, ajudando-nos a preparar para desafios iminentes ou a tomar decisões importantes.
No entanto, não recordamos sempre dos sonhos. As lembranças dos sonhos são, geralmente, cortadas, quebradas e tê-las mais nitidamente depende do grau de desenvolvimento das nossas percepções psíquicas.
Por vezes, só fica a lembrança da perturbação que antecede o desprendimento do Espírito ou o momento de despertar. Essa perturbação resulta em imagens confusas, misturando cenas vistas de quando estamos acordados às preocupações de nossa vida diária.
403. Por que não nos lembramos sempre dos sonhos?
“Aquilo que chamam sono é só o repouso do corpo, visto que o Espírito está constantemente em atividade. Durante o sono, recorda um pouco da sua liberdade e se corresponde com os que lhe são queridos, quer neste mundo, quer em outros. Mas, como é pesada e grosseira a matéria que o compõe, o corpo dificilmente conserva as impressões que o Espírito recebeu, porque essas impressões não chegaram por intermédio dos órgãos corporais.”
questão 403 – o livro dos espíritos
Práticas Seguras: Orientações para uma Comunicação Saudável
Para garantir uma saudável comunicação com os espíritos, é essencial seguir algumas orientações.
Práticas como a oração constante, a meditação sobre as mensagens recebidas, e a consulta com médiuns experientes e respeitáveis são fundamentais.
O cuidado com a interpretação das mensagens recebidas é crucial para evitar mal-entendidos ou a recepção de informações de espíritos menos evoluídos.
Finalmente, a comunicação com entes queridos desencarnados não deve ser vista como um fim, mas como um meio de crescimento espiritual e autoconhecimento.
Neste caminho, que a paz e a luz sejam sempre buscadas e encontradas, oferecendo-nos não apenas consolo, mas também a esperança e a certeza da vida contínua além do véu físico.